O Amor na Psicanálise

Falar sobre amor, sexo e desejo também inclui a psicanálise. Como um tema bastante comum, o amor se sobrepõe em diversas fases das nossas vidas e a psicanálise o estuda na sua forma pura e, muitas vezes, incompreendida. Transtornos envolvendo o amor ou o que se imagina ser ele é comumente visto nas análises psicanalíticas, pois por ser algo natural da nossa existência, ele também pode ser confundido com outros sentimentos, como o do desejo, por exemplo.

São sentimentos diferentes que ora se afastam, ora se intercalam. A psicanálise tem um grau de responsabilidade nesse estudo, sendo que uma análise é composta por uma transferência, onde o tema principal é o amor e as suas diferentes formas. Esse conceito de troca pode ser considerado amor de repetição, ou seja, um vínculo capaz de atingir o campo do desejo.

Ao se apaixonar, nós entramos no campo amoroso com uma imagem, onde achamos que o outro nos tem uma imagem própria refletida. Ou seja, encontramos um companheiro que nos permita reforçar a boa imagem que temos de nós mesmos e quando isso é rompido, ficamos totalmente destroçados. Isso acontece, segundo Freud, porque não há outro sentimento que nos deixe tão indefesos e impotentes ou, até, infelizes ao perdermos o objeto amado, como o amor nos faz. Em geral, o primeiro objeto amado que nós temos ao início da vida é o amor de mãe. Ao longo do nosso crescimento, vamos aprendendo que a relação mútua entre os nossos pais é amorosa, pois são os primeiros que nos refletem a segurança de amar, ao saber que esse sentimento nunca irá se perder nesta relação e o significado de dar e receber amor.

É possível escolher quem vamos amar?

A resposta é sim, é possível. Porém não de uma forma racional e intencional, onde colocamos parâmetros de sim ou não na balança, como se faz nas demais escolhas ao longo da vida. Isso se dá no nosso sistema inconsciente. Logo, é por isso que se vê com frequência pessoas buscando ajuda terapêutica sobre os seus problemas amorosos, tentando entendê-los e melhorá-los de alguma forma.

Podemos tomar como base um artigo de Freud, onde ele distingue dois tipos de escolha de objeto de amor, “Sobre o narcisismo: uma introdução.”:

  1. A escolha narcisista do objeto: Onde nós somos capazes de amar alguém que se assemelhe a nós mesmos, alguém que julgamos ser nosso igual, mesmo que passemos a fantasiar essas igualdades.
  2. O tipo anexador do objeto: Onde definimos uma função para o objeto amado, ou seja, anexamos a ele uma posição que tenha sobre nós mesmos, como, por exemplo, um companheiro que nos protege.

De uma forma simplificada, ao se apaixonar, o ser humano cria uma imagem para tal, a imagem do outro refletindo algo que admiramos e queremos relacionar ao objeto amado. É devido a isso que, muitas vezes, incidimos de nos apaixonar por alguém que nos transmita algo que nós nunca fomos capazes de ter, mas era desejado profundamente, mesmo que de uma forma errônea.

Segundo Lacan, amar é dar ao outro o que não se tem. Ou seja, é entendermos o que nos é faltoso e dar ao outro. Não significa dar o que temos de sobra, presentes, bens materiais. Para que isso seja possível, nós enquanto seres humanos devemos, primeiramente, entender e garantir o que temos em ausência, para podermos definir o que dar ao outro. É algo totalmente associado ao universo feminino e por isso, diversas vezes, é ridicularizado por parte do homem, que se recusa a assumir o amor acreditando que isso possa afetar a sua masculinidade, sua virilidade.

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