Em Três ensaios sobre a sexualidade, Freud reúne informações e busca escrever sobre os comportamentos sexuais que na sua época eram definidos como desviantes porque tinham foco direto em casos específicos relacionados ao ato de relacionamento sexual como pedofilia, zoofilia, homossexualidade, fetichismo, necrofilia, masoquismo, sadismo, dentre tantos outros existentes e rotulados na época. Termos estes que eram comumente usados entre os profissionais da área de psiquiatria agrupando os pacientes que se enquadrava em uma categoria de perversões ou aberrações sexuais. Para Freud, essas tais perversões tinham relações a fantasmas e desejos presentes no seu inconsciente que se manifestavam destas formas, digamos, mais agressivas e espantosas, incluindo, também, os desejos das crianças.
Relação entre perversão e neurose
Esse tema – perversão – teve diversas modificações desde o início da sua construção para a psicanálise, sendo possível que se faça uma interligação entre todas as suas interpretações com a ajuda da literatura. Dentre essas interligações, a perversão tem um ponto recíproco com a neurose. Para Freud, em sua teoria, o pretexto básico para a ocorrência de tais obsessões junto com a histeria provinha de um determinado trauma sexual que teve ocorrência na infância do sujeito e que, posteriormente, foi reprimido na sua mente. Ele diferenciou as origens da histeria e da neurose, sendo que a primeira seria decorrente de um momento passivo ocorrido na infância, entendendo que na existência da neurose, o indivíduo tenha sido a vítima passiva de um tipo específico de agressão sexual, levando-o a desenvolver o interesse no universo sexual de maneira precoce.
Podem-se notar sintomas gerados na ocorrência de eventos como estes durante a vida do indivíduo, como por exemplo, as ideias que retornam de forma obsessiva se relacionam com uma consciência adulterada da sua lembrança infantil que são substituídas por um objeto de natureza não-sexual, estando presente apenas na forma de ideias em sua mente, que causam obsessão. Um segundo sintoma que podemos exemplificar seria relacionado com a autocensura, uma ideia reprimida de si mesmo, onde esse sentimento seria substituído, de uma forma distorcida, por um sentimento de desagrado ou incômodo, como ansiedade e vergonha.
A contemporaneidade no universo psicanalítico
Ainda que seja provindo de diversos olhares diferentes com interpretações contraditórias, os conceitos de contemporaneidade têm ligações e toma como base o reconhecimento dos eventos existentes na vida humana que têm o poder de modificar o indivíduo, onde se indica uma fase de transição em que se começa o desenvolvendo de alguma determinada etapa durante a sua vida. Modificações essas que se tornam facilmente perceptíveis durante a nossa trajetória cotidiana e que podem se dá de maneira tão acelerada que é normal existir o sentimento de impotência diante de tais eventos e as situações que procedem as suas mudanças.
Com referência a contemporaneidade e as suas novas colocações subjetivas, é válido ressaltar a formulação feita por Melman, em outras palavras, acerca do favorecimento atual do que para ele seria paranoia da vida cotidiana ou paranoia social, onde este último teria contribuição direta do ambiente social vivido para o aparecimento dos delírios por parte do sujeito, definindo a paranoia, portanto, como a certeza que um determinado indivíduo tem do seu conhecimento da verdade, como uma verdade absoluta. Verdade esta que tem o poder de recompor todas as inconsistências e os problemas existentes nos ambientes familiares, sociais e políticos.
Sendo assim, é notória a relação entre contemporaneidade e neurose, esta última que também se relaciona com a perversão, onde estes três pontos da psicanálise criam um ciclo vicioso entre si e entre a vida de cada sujeito. Todos com decorrência de eventos vivenciados durante a vida, em suas vertentes e em determinadas fases da mesma.